terça-feira, 21 de junho de 2016

Marrocos - Arfoud

Deixámos a confusão das obras em Fez, e descemos até ao deserto.


Fizemos uma breve paragem junto do Parque Cèdre Gouraud para espreitar os macacos, mas só ficámos o tempo estritamente necessário para ver e tirar umas quantas fotos aos macacos, e "fugimos" imediatamente antes de os tais marroquinos que só nos querem "ajudar" terem tempo de nos abordar com os saquinhos de amendoins para os macacos.
 





Aos poucos a paisagem foi começando a mudar!
Um pouco menos de chuva, um pouco mais de calor. 
Um pouco menos de verde, um pouco mais de amarelo torrado...
 
Parámos para almoçar, e fomos cair num restaurante vazio, dentro de um jardim, e mais uma vez,... comemos mal e pagámos caro, e ainda por cima, no fim o dono ainda nos sacou mais uns trocos pelo "excelente serviço prestado"!
Observem:
As entradas - azeitonas de várias cores e um molho que nenhum de nós conseguiu comer:
 
O primeiro prato - uma salada da qual nenhum de nós conseguiu sequer debicar,...
 

  Para ele, uma Tagine de frango com limão.
 
E para mim, uma tagine de carne com ameixas, que não sendo má de todo, estava como sempre excessivamente temperada e muito picante, e sem qualquer acompanhamento, porque eles acompanham tudo com pão.
Aliás, o pão e as azeitonas foram a base da nossa alimentação durante toda a estadia, e devo dizer que o pão é excelente!
Já as azeitonas,... tinham dias ;-)
Confesso que andei a maior parte do tempo com o estômago ás voltas, porque não tolero bem o picante, e não houve omeprazole que chegasse para desfazer o mal que picante me foi fazendo.
 
O melhor de tudo foi mesmo a sobremesa, que serviu para atenuar um pouco o efeito do picante.
 

O pior foi que não tínhamos dinheiro trocado, e o troco ainda era considerável, pelo entregámos o dinheiro, e ficámos á espera do troco, e ao fim de 15 minutos, comentei o que já estava a pensar há um bom bocado!...
"ele está a fazer-se ao troco!"
"Está agora!?... é muito dinheiro!"
"vamos ver!..."
Mais um quarto de hora passou, e precisávamos de arrancar, mas nem vivalma, pelo que decidimos plantar-nos na porta de forma a mostrar claramente que não iríamos desistir, e então lá apareceu com o troco num prato, mas quando o marido estendeu a mão para o receber, ele recolheu o prato com um ar muito ofendido, (fartámos-nos de ver aquele ar...) e perguntou se não estávamos satisfeitos com o serviço dele,...
...metade do troco lá teve que ficar!...
Daí para a frente, a paisagem passou a ser predominantemente amarela.
 




Mas a determinada altura, começámos a ver uma mancha verde.


E junto de um rio, a acompanhar as respectivas margens, um imenso palmeiral.
 Passámos o túnel do legionário, que foi escavado a pá e picareta na rocha, e se mantém como tal até a actualidade, sendo uma atracção turística bem conhecida, mas quando passámos não havia por lá ninguém.


E depois do túnel, um imenso lago com uma cor inscritível!








e lá está, de vez em quando, uma escola no meio de nada...
 

E "bandos" de miúdos agrupados por idade a caminhar ao longo da estrada.
 

Continuámos pelo vale do Ziz, que nos acompanhou por muitos km, com o seu interminável palmeiral.
 













É impressionante as cargas que transportam, de carro, de camião, de burro, ás costas ou de motobecane!
 
Dei uma de "Gracinda Ramos" e fui brincando com a sombra ;-)
 

Chegámos a Arfoud já perto do fim do dia, e com muito calor.
 

Cansados, a derreter com o calor, e com a fome a atormentar-nos, tivemos alguma dificuldade para encontrar o hotel, que tinha um nome diferente do que aparecia no booking, e quando finalmente chegámos, o quarto que nos atribuíram apesar de muito amplo, e bonito, cheirava a esgoto, pelo que tivemos que trocar, e ficamos num quarto gigantesco onde cabia a nossa casa inteira!
Descemos para procurar jantar, e como estávamos cansados, negociamos com o recepcionista do hotel o preço alí mesmo para não termos que andar á procura, mas não correu muito bem...

O jantar era composto de sopa, 1º prato a escolher entre 2 opções, 2º prato também a escolher entre 2 opções, e sobremesa, igualmente a escolher entre 2 opções, pelo que cada um de nós escolheu uma opção diferente, pois assim, alguma coisa haveria de ser comestível...
....
A sobremesa conseguia-se comer!

Saí da sala de jantar para falar com a filhota, porque na sala não havia net, e quando voltei, as sopas estavam na mesa, mas o marido avisou logo:
"Acho que não vais conseguir comer"
Provei, e quase tive que comer um pão inteiro para limpar o picante da boca!
Veio o primeiro prato, para ele um esparguete á bolonhesa deslavado e picante, e para mim uma tagine de kefta que é uma espécie de almôndegas super temperadas, que provei a medo, e lá tive que comer outro pão para limpar o picante da boca.
Por esta altura já tinha a boca dormente só de provar, mas quando vieram os segundos pratos,... nem o marido que é menos sensível ao picante conseguiu comer!
As sobremesas eram melancia, e um sortido de pequenos bolos secos, e isso acabou por ser o nosso jantar!
Fomos sentar-nos na recepção a decidir como fazer para ir ao deserto, e o recepcionista veio perguntar-nos pelo jantar...  
Entretanto, claro que ele tinha um amigo, com um jeep, que levava pessoas a conhecer o deserto, e claro,... propôs-nos um programa para ir ao deserto com 2 opções: 
1ª - por cerca de 60 € iríamos ver o sol nascer, e dar uma volta pela zona;
2ª - por cerca de 120 € poderíamos fazer um programa mais completo, assistindo ao pôr do sol no deserto, dormir por lá, e depois assistir ao nascer do sol nas dunas.
Escolhemos o programa mais modesto e deixámos claro que não queríamos comprar nada, que estávamos tesos e fartos de ser forçados a pagar por tudo e por nada, pelo que ele garantiu-nos que o tal amigo não tentaria vender-nos nada.
Ficou combinado que ás 4:30 horas da madrugada, o amigo viria buscar-nos, levar-nos ao deserto para ver o sol nascer, mostrar-nos um pouco da zona, e trazer-nos de volta ao hotel a tempo de tomar um pequeno almoço reforçado para compensar o desastre do jantar. 
O resto do dia  seria para dormir e aproveitar a piscina do hotel.

Fomos dormir um pouco...

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Marrocos - De Chefchouen a Fez



Tomámos o pequeno-almoço, 


...despedimo-nos da medina azul, 



...descemos os degraus do hotel que tínhamos subido na véspera, mas desta vez molhados, Ô_Ô e fizemo-nos á estrada.


A paisagem continuava verde, e molhada…



Ao longo da estrada vamos encontrando grandes grupos de crianças, claramente em transito (a pé) entre a escola e a casa. Não é como cá, que os papás vão deixar os putos de carro quase dentro da escola!









A distância não era grande pelo que chegámos cedo, e mais uma vez, numa rotunda á entrada de Fez, fomos abordados por mais um “muito diligente marroquino” que nos queria guiar até ao hotel, até á medina, etc…
Eu precisava de um wc com urgência, e o “simpático” marroquino não nos deixava andar, apesar de o hotel já estar á vista, pelo que desisti de esperar pelo marido e arranquei para dentro do estacionamento do hotel. Ele seguiu-nos assim mesmo!
Tinha um tio (são sempre familiares) que viria buscar-nos para nos levar a almoçar e a visitar a medina de Fez! Recusámos, dizendo que primeiro queríamos descansar, e que só mais tarde iríamos até á medina, mas quando finalmente saímos do hotel, depois de fazer o check in, de mudar de roupa e descansar um pouco, tínhamos mais um adorável e muito “diligente marroquino” á nossa espera dentro de um jeep.
Era o tal familiar do outro marroquino, e estava ali para nos levar a visitar a medina, pela módica quantia de 500 dirhams!
Agradecemos e recusámos!
Estava a chover, e pedimos ao recepcionista do hotel para nos chamar um táxi, mas ele disse-nos que não era possível!
Explicou-nos que em Marrocos existiam 2 tipos de táxi: os grand táxi, que levam muitos passageiros, e que pode ir a todo o lado, e os petit táxi, que apenas podem transportar até 3 passageiros, e apenas dentro dos limites da cidade a que pertencem. Explicou-nos ainda que ambos podiam sempre apanhar mais passageiros no caminho, mas aparentemente não têm radio táxi, para que pudéssemos chamar por telefone!
Em cada cidade, estes petit táxis têm uma cor diferente, e em Fez eram vermelhos.
Saimos do Ibis Budget, e parámos debaixo do toldo de um café, a ver como apanhar um petit táxi, mas eles passavam tão depressa, e quase sempre cheios, que ainda demorou algum tempo. Finalmente, vemos um Peugeot 205, com mais de 30 anos, e totalmente amolgado, mas vazio, e na faixa contrária à que nos encontrávamos. Fizemos sinal e imediatamente inverteu a marcha para nos apanhar.
Foi a nossa primeira experiência com táxis marroquinos, e gostámos tanto que repetimos diversas vezes! Pagámos 15 MAD (cerca de 1,50 €)
Quem teve ou andou num Peugeot 205, deve certamente lembrar-se de que aquilo adorna muito facilmente, (mas não vira), mas agora imaginem andar num carro desses, com mais de 30 anos, em serviço de táxi que equivale a dizer que já tinha rolado muitos milhares de km, e no trânsito frenético e caótico das cidades marroquinas!...
Chegámos vivos, e ele deixou-nos á porta da medina, num local onde teríamos restaurantes logo á entrada.
Pelo caminho, várias pessoas o mandaram parar, mas nenhuma ia na mesma direcção, pelo que só quando já estávamos a pagar é que entrou mais um passageiro.
Seguramente que clientes não lhes faltam!
Almoçámos razoavelmente bem, umas costeletas de borrego com batatas fritas, e foi a coisa mais parecida com a nossa alimentação que comemos em todo o tempo que andámos por lá, mas antes do prato propriamente dito, puseram-nos á frente uma pequena tigela de uma espécie de sopa de lentilhas, com uma colher de chá. Provámos, não era picante, e comemos tudo ;-)






Depois de almoçar, perguntámos ao dono do restaurante onde haveria um banco para trocar dinheiro, e é fácil adivinhar!... Trocou ele, ao câmbio de 10 por 10…
Fomos finalmente perder-nos dentro da medina!









O trabalho da senhora da perna partida era partir a casca das sementes de argan, para extrair o "fruto".



Conseguimos passar pelos “diligentes marroquios” que ofereciam os serviços de guia sem levar nenhum, e ainda andámos um bom bocado à-vontade perdidos dentro da medina, mas ao fim de algum tempo, um rapaz começa a seguir-nos e vai fazendo a pergunta da praxe:
- Francês?
- Espanhol?
- Italiano?
- …ahhhh português!
- Porto, Lisboa,… Cristiano Ronaldo!
- Primeira vez em Marrocos?
É sempre igual!
Este chamava-se Aziz.
Depois de conseguir apanhar uma resposta nossa (o marido nunca conseguia resistir por muito tempo), já não nos largou mais, e claro que tinha um tio que tinha uma fábrica de curtumes, e claro que nos deixaria subir ao terraço par espreitar…
Fomos com ele, levou-nos mais para o interior da medina, para ruelas onde sozinhos ainda não nos tínhamos atrevido, daquelas em que temos que nos baixar para passar o arco da entrada, e finalmente entrámos num edifício, daqueles que têm loiças, cremes e óleos á base de argan, lenços echarpes e djellabas, e finalmente os tapetes e curtumes.
Encaminharam-nos para uma escada estreita e íngreme, e apontaram um cesto cheio de hortelã, mostrando por gestos que seria para cheirar, para não sofrer tanto com o cheiro típico da curtição das peles.
Subimos sozinhos, e estivemos por lá um bocado.















Quando descemos, claro que o Aziz não estava visível, e em vez dele havia vários “familiares” prontinhos para vender alguma coisa.
Ainda não tinha comprado nada, e claro que perante os tapetes e as loiças explicámos que estávamos de mota,… nos cremes e nas malas dissemos que só no regresso, mas eu tinha-me esquecido de levar um cinto, e andava com as calças a cair, pelo que comecei a ver os que lá tinham, e embora não visse nada que realmente agradasse, escolhi um que estaria disposta a comprar para remediar a coisa. Começaram logo á procura do meu tamanho, dizendo que ajustavam se necessário, agarrando na ferramenta, e eu ía perguntando o preço, que é sempre a última coisa que dizem…
350 dirhams!...
Ía caindo para o lado!
Nunca daria mais de 5,00 € por aquilo, e ele estava-me a pedir 35,00 €!... em Marrocos, o país onde o salário mínimo é de 10,81 MAD por hora para a indústria e 52,50 dirhams por dia para a agricultura!
Recusei, mas em Marrocos não se pode simplesmente recusar, e somos obrigados a fazer uma contra proposta, pelo que ele perguntava quanto dava. A distância era tão grande que eu só queria acabar com a conversa e fugir dali, até porque tinham-se juntado alguns 5 ou 6 “familiares”, e todos faziam observações, pelo que após muita insistência apesar do meu ar incrédulo e chocado, lá atirei para o ar que não daria mais do que 2 ou 3 €, para acabar depressa com a conversa!
Eles conhecem muito bem o valor do euro, e ficaram muito ofendidos, chamaram o Aziz e correram connosco da loja.
Claro que o Aziz quiz receber a propina dele, e com muito custo lá aceitou 80 MAD (cerca de 8,00 €), e depois, sem sair da loja, indicou-nos o caminho para sair do labirinto e chegar até á "rua principal" que não é mais do que uma ruela identica ás restantes, cheia de lojas dos 2 lados, mas com mais 2 ou 3 cm de largura do que as restantes.
































Saímos da medina, e cá fora preparava-se tudo para o festival de músicas sagradas do mundo.


Andámos o resto da tarde mais ou menos perdidos na parte nova da cidade, e fizemos km a pé, mas o que mais me cansou foi a dificuldade para respirar que senti em todo o tempo que andei por Marrocos!
Os carros são muito velhos, e há ciclomotores e velocípedes com motor auxiliar (a maioria motobecane), tudo com motores a 2 tempos, aos milhares, que passam freneticamente por nós, numa espécie de caos mais ou menos organizado, onde todos sabem para onde vão, e se cruzam sem problemas por todos os lados de todas as maneiras.
Só que o ar é carregado, poluído, de uma forma que por cá há muito já não sentimos, e como eu tenho dificuldades respiratórias, senti alguma dificuldade.

Ainda por cima, nas cidades cheira sempre a esgoto!








Fomos dar a um moderníssimo shopping, onde aproveitámos para jantar, e depois regressámos novamente de táxi ao hotel. Desta vez, calhou-nos um fiat panda, também seguramente com mais de 30 anos, e com o espelho retrovisor esquerdo pendurado!