Tomámos o pequeno-almoço,
...despedimo-nos da medina azul,
...descemos os degraus do hotel que tínhamos subido na véspera, mas desta vez
molhados, Ô_Ô e fizemo-nos á estrada.
A paisagem continuava verde, e molhada…
Ao longo da estrada vamos encontrando grandes grupos de crianças, claramente em transito (a pé) entre a escola e a casa. Não é como cá, que os papás vão deixar os putos de carro quase dentro da escola!
A distância não era grande pelo que chegámos cedo, e mais
uma vez, numa rotunda á entrada de Fez, fomos abordados por mais um “muito
diligente marroquino” que nos queria guiar até ao hotel, até á medina, etc…
Eu precisava de um wc com urgência, e o “simpático”
marroquino não nos deixava andar, apesar de o hotel já estar á vista, pelo que
desisti de esperar pelo marido e arranquei para dentro do estacionamento do
hotel. Ele seguiu-nos assim mesmo!
Tinha um tio (são sempre familiares) que viria buscar-nos
para nos levar a almoçar e a visitar a medina de Fez! Recusámos, dizendo que
primeiro queríamos descansar, e que só mais tarde iríamos até á medina, mas
quando finalmente saímos do hotel, depois de fazer o check in, de mudar de
roupa e descansar um pouco, tínhamos mais um adorável e muito “diligente
marroquino” á nossa espera dentro de um jeep.
Era o tal familiar do outro marroquino, e estava ali para
nos levar a visitar a medina, pela módica quantia de 500 dirhams!
Agradecemos e recusámos!
Estava a chover, e pedimos ao recepcionista do hotel para
nos chamar um táxi, mas ele disse-nos que não era possível!
Explicou-nos que em Marrocos existiam 2 tipos de táxi: os
grand táxi, que levam muitos passageiros, e que pode ir a todo o lado, e os
petit táxi, que apenas podem transportar até 3 passageiros, e apenas dentro dos
limites da cidade a que pertencem. Explicou-nos ainda que ambos podiam sempre
apanhar mais passageiros no caminho, mas aparentemente não têm radio táxi, para
que pudéssemos chamar por telefone!
Em cada cidade, estes petit táxis têm uma cor diferente, e
em Fez eram vermelhos.
Saimos do Ibis Budget, e parámos debaixo do toldo de um
café, a ver como apanhar um petit táxi, mas eles passavam tão depressa, e quase
sempre cheios, que ainda demorou algum tempo. Finalmente, vemos um Peugeot 205,
com mais de 30 anos, e totalmente
amolgado, mas vazio, e na faixa contrária à que nos encontrávamos. Fizemos
sinal e imediatamente inverteu a marcha para nos apanhar.
Foi a nossa primeira experiência com táxis marroquinos, e
gostámos tanto que repetimos diversas vezes! Pagámos 15 MAD (cerca de 1,50 €)
Quem teve ou andou num Peugeot 205, deve certamente
lembrar-se de que aquilo adorna muito facilmente, (mas não vira), mas agora
imaginem andar num carro desses, com mais de 30 anos, em serviço de táxi que
equivale a dizer que já tinha rolado muitos milhares de km, e no trânsito frenético e caótico das cidades marroquinas!...
Chegámos vivos, e ele deixou-nos á porta da medina, num
local onde teríamos restaurantes logo á entrada.
Pelo caminho, várias pessoas o mandaram parar, mas nenhuma
ia na mesma direcção, pelo que só quando já estávamos a pagar é que entrou mais
um passageiro.
Seguramente que clientes não lhes faltam!
Almoçámos razoavelmente bem, umas costeletas de borrego com
batatas fritas, e foi a coisa mais parecida com a nossa alimentação que comemos
em todo o tempo que andámos por lá, mas antes do prato propriamente dito,
puseram-nos á frente uma pequena tigela de uma espécie de sopa de lentilhas,
com uma colher de chá. Provámos, não era picante, e comemos tudo ;-)
Depois de almoçar, perguntámos ao dono do restaurante onde
haveria um banco para trocar dinheiro, e é fácil adivinhar!... Trocou ele, ao
câmbio de 10 por 10…
Fomos finalmente perder-nos dentro da medina!
O trabalho da senhora da perna partida era partir a casca das sementes de argan, para extrair o "fruto".
Conseguimos
passar pelos “diligentes marroquios” que ofereciam os serviços de guia sem
levar nenhum, e ainda andámos um bom bocado à-vontade perdidos dentro da
medina, mas ao fim de algum tempo, um rapaz começa a seguir-nos e vai fazendo a
pergunta da praxe:
- Francês?
- Espanhol?
- Italiano?
- …ahhhh português!
- Porto, Lisboa,… Cristiano Ronaldo!
- Primeira vez em Marrocos?
É sempre igual!
Este chamava-se Aziz.
Depois de conseguir apanhar uma resposta nossa (o marido
nunca conseguia resistir por muito tempo), já não nos largou mais, e claro que tinha um tio que
tinha uma fábrica de curtumes, e claro que nos deixaria subir ao terraço par
espreitar…
Fomos com ele, levou-nos mais para o interior da medina,
para ruelas onde sozinhos ainda não nos tínhamos atrevido, daquelas em que
temos que nos baixar para passar o arco da entrada, e finalmente entrámos num
edifício, daqueles que têm loiças, cremes e óleos á base de argan, lenços
echarpes e djellabas, e finalmente os tapetes e curtumes.
Encaminharam-nos para uma escada estreita e íngreme, e apontaram
um cesto cheio de hortelã, mostrando por gestos que seria para cheirar, para
não sofrer tanto com o cheiro típico da curtição das peles.
Subimos sozinhos, e estivemos por lá um bocado.
Quando
descemos, claro que o Aziz não estava visível, e em vez dele havia vários
“familiares” prontinhos para vender alguma coisa.
Ainda não tinha comprado nada, e claro que perante os
tapetes e as loiças explicámos que estávamos de mota,… nos cremes e nas malas
dissemos que só no regresso, mas eu tinha-me esquecido de levar um cinto, e
andava com as calças a cair, pelo que comecei a ver os que lá tinham, e embora
não visse nada que realmente agradasse, escolhi um que estaria disposta a
comprar para remediar a coisa. Começaram logo á procura do meu tamanho, dizendo
que ajustavam se necessário, agarrando na ferramenta, e eu ía perguntando o
preço, que é sempre a última coisa que dizem…
350 dirhams!...
Ía caindo para o lado!
Nunca daria mais de 5,00 € por aquilo, e ele estava-me a
pedir 35,00 €!... em Marrocos, o país onde o salário mínimo é de 10,81 MAD por hora para a indústria e 52,50
dirhams por dia para a agricultura!
Recusei, mas em Marrocos não se pode simplesmente recusar, e
somos obrigados a fazer uma contra proposta, pelo que ele perguntava quanto
dava. A distância era tão grande que eu só queria acabar com a conversa e fugir
dali, até porque tinham-se juntado alguns 5 ou 6 “familiares”, e todos faziam
observações, pelo que após muita insistência apesar do meu ar incrédulo e
chocado, lá atirei para o ar que não daria mais do que 2 ou 3 €, para acabar
depressa com a conversa!
Eles conhecem muito bem o valor do euro, e ficaram muito ofendidos, chamaram o Aziz e correram connosco da loja.
Claro que o Aziz quiz receber a propina dele, e com muito custo lá aceitou 80 MAD (cerca de 8,00 €), e depois, sem sair da loja, indicou-nos o caminho para sair do labirinto e chegar até á "rua principal" que não é mais do que uma ruela identica ás restantes, cheia de lojas dos 2 lados, mas com mais 2 ou 3 cm de largura do que as restantes.
Saímos da medina, e cá fora preparava-se tudo para o festival de músicas sagradas do mundo.
Andámos o resto da tarde mais ou menos perdidos na parte nova da cidade, e fizemos km a pé, mas o que mais me cansou foi a dificuldade para respirar que senti em todo o tempo que andei por Marrocos!
Os carros são muito velhos, e há ciclomotores e velocípedes com motor auxiliar (a maioria motobecane), tudo com motores a 2 tempos, aos milhares, que passam freneticamente por nós, numa espécie de caos mais ou menos organizado, onde todos sabem para onde vão, e se cruzam sem problemas por todos os lados de todas as maneiras.
Só que o ar é carregado, poluído, de uma forma que por cá há muito já não sentimos, e como eu tenho dificuldades respiratórias, senti alguma dificuldade.
Ainda por cima, nas cidades cheira sempre a esgoto!
Fomos dar a um moderníssimo shopping, onde aproveitámos para jantar, e depois regressámos novamente de táxi ao hotel. Desta vez, calhou-nos um fiat panda, também seguramente com mais de 30 anos, e com o espelho retrovisor esquerdo pendurado!