quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Marrocos - El Jadida - Bouznika - Rabat

Deixámos o Ibis de El Jadida!



O Ibis não engana, é acolhedor, tem tudo o que é preciso, e o preço é a condizer com o tamanho dos quatros.

Neste acabámos por ficar num triplo porque o quarto que nos foi atribuído tinha o sensor da luz do wc avariado, e não puderam reparar na hora.

Esta viagem muito diferente do que estamos habituados, com muita informação para processar, muita coisa para absorver, e a constante preocupação em evitar o assédio permanente dos marroquinos cansou-nos, por isso decidimos ir relaxar a Islantilla antes de retomar o trabalho, e tínhamos decidimos na véspera, apanhar a Auto-Estrada com intenção de chegar cedo e aproveitar o dia em Rabat, para logo no dia seguinte partir para Ceuta, mas foi uma péssima escolha, e acabámos por passar o dia todo entre a portagem de Bouznika, e a esquadra de polícia... 
Estava-mos cansados! Pior ficámos!...
Cada um de nós levava trocos no bolso do casaco, e a cada portagem ele pagava, seguia, eu pagava e seguia, até que na portagem de Bouznika ele pagou, arrancou, eu aproximei-me da cabine, ouvi um barulho, vejo o portageiro olhar com um ar aflito, e quando me volto estava o meu marido no chão, e a cancela da portagem em baixo, quando deveria estar em cima!...
Muito aflito, o portageiro abriu a cancela e saiu da cabine, ao mesmo tempo que eu largava a minha mota para irmos ajudar o marido a levantar-se porque a mota tinha caído sobre o pé direito, e estava preso.
O portageiro aflito só dizia com as mãos na cabeça "ces´t ma fault!... ces´t ma fault"...
O que aconteceu foi que ele pagou a portagem, o portageiro abriu a cancela, mas logo de seguida fechou-a, e apanhou o meu marido a meio. A cancela interpôs-se entre ele e o ecrã da mota, retirando-lhe as mãos violentamente do guiador, e impossibilitando qualquer reacção.
A mota ficou neste estado:


























O rapaz aflito só perguntava quanto custava o espelho, como se pagando o espelho tudo ficasse resolvido, mas quando lhe dissemos que só o espelho custaria mais de 60,00 €, e que tudo  o resto iria para perto de 1.000,00 € ficou em pânico,... ou pelo menos fez tudo para nos convencer que estava em pânico, que a vida dele tinha acabado, que tinha uma filha pequena, que era a primeira semana de trabalho, mas afinal mais tarde, depois de muitas horas de histórias, já estava no fim do contrato de 3 meses!...
...enfim!......
Mandámos chamar o responsável das AE, mas estava difícil de aparecer alguém. Apareceu entretanto um funcionário já com uma certa idade, julgo que seria um funcionário da limpeza, e com poucas palavras foi o único a tentar inteirar-se da saúde do meu marido! foi buscar desinfectante, e ajudou a limpar a ferida, e foi ele quem viu que também se tinha aleijado no cotovelo.





O capacete do Lidl fez o seu trabalho, porque ele bateu com a cabeça com alguma violência no separador das vias, e ficou praticamente encaixado debaixo da mota e preso entre esta e o separador.
Ao fim de algum tempo, lá apareceu um suposto responsável, e começaram a falar entre eles numa mistura daquele francês deles que não é bem francês, com árabe, e depois de alguns telefonemas propunham-nos fazer o trabalho de pintura da mota numa oficina de uma amigo do portageiro, sendo ele mesmo, o portageiro, quem iria pintar a mota!...

Aqui dá para ver a cancela bem marcada, e não nos pareceu que tivesse sido a primeira vez.
Aliás, a partir daí passámos a reparar nas cancelas, e na verdade quase todas têm marcas de já terem sido abalroadas várias vezes, e ficámos com a sensação de que não devem ter os sensores de segurança activos....






Nesta altura começou a saltar-me a tampa, e "soltei a mulher bérebere" que há em mim, e que já tinha feito uma ou duas aparições nesta viagem, exigindo a presença da polícia, dado que o responsável da AE não assumia nada, e só dizia que teria que ser o portageiro a resolver do bolso dele.
Por alto fizémos contas e o estrago não ficaria por menos de 700,00 €, além de que estávamos a perder um dia de férias, com eles atentar negociar o valor da reparação entre os 60,00 € do espelho e a pintura feita pelo rapaz...
Ainda telefonaram para algum lado, a tentar arranjar o espelho, pois como é óbvio não poderíamos atravessar Espanha sem espelho, mas não conseguiram nada, e depois de muita insistência, lá nos levaram para o posto da polícia da portagem.
Com isto tudo, estava-mos já com fome, e cada vez mais cansados, e eles estavam a jogar com isso, tentando ganhar pelo cansaço, mas não me conhecem!...
O Rui é diabético, e comecei a ficar um pouco preocupada, pois por esta altura eram cerca de 3 horas da tarde e estava só com o pequeno almoço, e nem uma garrafa de água nos arranjaram! a muito custo, o chefe do posto lá sacou de uma chave e abriu um armário onde tinha fechada a 7 chaves uma máquina de café, e lá lhe arranjou um café para repor níveis, mas até cerca das 19:00 horas foi tudo o que ingeriu!
A conversa não desenvolvia, porque nem nós estávamos dispostos a sair dali de mãos a abanar, nem eles assumiam nada, e entretanto o Rui tinha telefonado à D. Paula Santos, uma senhora que trabalha entre Marrocos e Portugal, organizando viagens de grupo, e cujo contacto nos tinha sido dado pelo companheiro Jorge Bernardo para alguma emergência, e que muito nos ajudou naquele dia, servindo de interlocutor entes nós e os marroquinos. Ao fim de várias horas finalmente entenderam que não iam levar a melhor, e lá perceberam que teria que ser aberto um processo na esquadra de polícia de Bouznika, para onde nos encaminharam.
Foi lá que passámos o resto da tarde, onde novamente a história foi contada, e uma vez mais nos tentaram levar pelo cansaço, até que entenderam de uma vez por todas que não haveria mesmo escapatória e deram finalmente início à abertura formal de um processo.

Aí começou outro problema! em que idioma?... Francês, nenhum de  nós escreve, eles não sabem inglês, e claro que o português e o árabe estavam fora de digitação. Mandaram-nos escrever em Inglês, e começaram a transcrever para o google tradutor!...
Claro que logo à primeira frase entenderam,... ou não, porque de seguida mandaram-nos escrever em português!...



Cá para mim, foi uma derradeira tentativa de nos dobrar pelo cansaço, mas nós somos um osso muito duro de roer, e não é depois de meio século de vida que vou começar a deixar os meus direitos por reclamar!
A dada altura desapareceram todos.
Ficámos apenas nós, um polícia, e o portageiro, que numa última tentativa nos tentou mais uma vez convencer que era o fim da vida dele, e sacou de uma bomba de ventilan!
...ele não me conhece!...
Saiu-me logo disparada da boca um: tenho uma igual na mota, pelo que se precisar vou buscar!...
Desistiu de vez, e entretanto voltou o comandante do posto, com a trupe toda e disseram-nos que iriam eles mesmo escrever o auto por nós, dado que as traduções não funcionavam.
Desapareceram todos e estiveram ausentes cerca de uma hora e quando reapareceram, vinha só o comandante e os polícias, já sem o pessoal da AE, que não tornámos a ver!
Traziam um livro oficial, onde tinham supostamente registado toda a história, em árabe, e deram-no ao meu marido para assinar!...
Claro que a nossa surpresa foi evidente, e perante ela, levantaram-se todos muito ofendidos, perguntando se estávamos a desconfiar!
O comandante era enorme, e apesar de não me fazer medo, confesso que impunha respeito, mas na verdade o absurdo da situação só me dava era vontade de rir!
Como não nos disponibilizaram nenhum tipo de tradução, e apenas diziam que correspondia ao que tínhamos contado (nós e o portageiro), percebemos que não havia outra saída senão assinar, e ao mesmo tempo tínhamos que reconhecer que até ao momento não havia nenhuma razão para não confiar nas autoridades marroquinas, apesar do aspecto de "GNR corrupta de província" com que que toda a cena se apresentava.
Ainda tentei tirar uma foto, mas imediatamente retiraram o livro do meu alcance, novamente abespinhados, e recusaram peremptoriamente dar uma cópia. Apenas me apontaram um suposto numero de processo, e me disseram para o anotar pelo meu punho!
Não houve outra solução senão a de ele assinar aquele suposto auto, e rezar para que a coisa corresse bem, e finalmente fomos embora, trazendo apenas como "recordação", o talão da portagem, algumas mazelas no pé e no cotovelo, e a mota toda riscada com o espelho "embrulhado" em fita americana.



Voltámos à A5, mas agora cada passagem das cancelas era a medo, até que finalmente chegámos a Rabat.


O hotel era fantástico, e tinha à nossa espera uma garrafa de água e um cesto de fruta. Foi a única vez que tal aconteceu, e foi no dia certo! devorámos tudo, e com o estômago recomposto, decidimos tentar ainda ver alguma coisa de Rabat, e a torre Hassan, que era ali perto.

A torre estava em obras, mas deu para visitar o mausoléu.



















Demos uma volta pela cidade, à procura de jantar, e de alguma oficina que pudesse ter um espelho para remediar, mas a única que encontrámos não tinha nada.




Mais um posto de trabalho de polícia sinaleiro.



Jantámos e fomos dormir, mas decidimos que em vez de sair logo de manhã para Tanger, ou de ir visitar a medina, como chegámos a ponderar, iríamos à embaixada de Marrocos.



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